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Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

O pai gostou #1 Colégio Piloto Diese (Lisboa)

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Sou o pior convidado no que diz respeito a escolas: entro sem cerimónias, exploro o espaço como uma criança, faço muitas perguntas e questiono muitas coisas.

Aconteceu quando, a propósito de um workshop, conheci o Colégio Piloto Diese. 

O Colégio fica numa das artérias principais de Lisboa e eu, que estudei em escolas em contexto rural e que trabalho em escolas do concelho de Cascais, fico sempre muito curioso acerca das escolas em meio urbano, à partida com menos espaço exterior e com mais limitações no que diz respeito à interacção entre a escola e o meio. 

O edifício principal é antigo e bonito mas as instalações (interiores e exteriores) são modernas e bem equipadas. A corrente pedagógica que o Colégio adopta é a do MEM (Movimento da Escola Moderna), modelo em que acredito veementemente. Para além de tudo, o colégio recebe crianças dos 0 aos 10 anos nas modalidades de berçário, creche, jardim de infãncia e 1º ciclo, dando uma perspectiva longitudinal e de continuidade às crianças e aos pais. 

Com uma equipa de 7 educadoras, 1 professor de 1º Ciclo, 1 psicóloga e mais de 10 auxiliares de ação educativa assumem como principal objetivo o desenvolvimento saudável de cada criança, educando-as para se tornarem capazes e felizes. 

Durante o workshop tive oportunidade de ouvir mães cujos filhos são ali alunos e a satisfação era generalizada. Assumo aqui que, não fosse a distância de Cascais (onde resido) e Lisboa, não hesitaria um minuto em escolher esta escola para a Ana, pois vai ao encontro de tudo aquilo em que, pedagogicamente, acredito e defendo. 

Bónus? O parque José Gomes Ferreira, ali mesmo do outro lado da estrada. Afinal, apesar de ser uma escola urbana, reconheço que se pode ter o melhor de dois Mundos...

 

Mais informações:

Site do Colégio Piloto Diese

Blog do Colégio Piloto Diese

Blog Out # 1- Tapada de Mafra

"A César o que é de César" , ou seja, tenho que começar por dizer que a ideia foi da minha mulher. Na verdade, eu nem estava nada entusiasmado e embora trabalhe com crianças há mais de uma década nunca aconteceu ter ido, ainda que em trabalho, à Tapada de Mafra. Aconteceu nestas férias, num dia em que o tempo na Ericeira estava tão farrusco que a mãe cá de casa tirou esta cartada na manga. Fomos já depois da sesta, meio receosos que a hora já fosse demasiado tardia para qualquer um dos programas que a Tapada nos oferece. 

Dirigimo-nos à bilheteira e a excelência no serviço começou ali. A empregada não bufou quando nos viu chegar tarde e a más horas, explicou-nos logo as possibilidades que tínhamos à disposição aquela hora e teve a maior paciência para a Ana, hesitante entre tanto mershandising giro, o que não vem a ser habitual nestes sítios. 

Depois dos bilhetes comprados (volta à Tapada em carro eléctrico), pudemos esperar à sombra a beber uma bebida fresca que tirámos das máquinas de vending (a Tapada ganharia com um serviço de cafetaria a sério, fica a sugestão) enquanto a Ana ia testando os seus novos binóculos. 

Às 17h partimos no carro eléctrico, conseguindo aquele que achávamos que era o melhor lugar: o último banco em sentido contrário aos restantes, logo, garantimos uma viagem nas traseiras do veículo em posição revertida, sem ninguém à frente a tapar-nos as vistas. A nossa condutora (bióloga?) era uma simpatia, com um know how fabuloso, uma paciência ímpar para os mais pequenos que não conseguiam conter os gritinhos de surpresa e os guinchos de satisfação ao avistarem os animais e com um conhecimento complementar de História, que se mostrou bastante importante na visita ao pequeno Museu dos Coches que a Tapada tem e que estava incluída no bilhete. 

Como estávamos numa altura do dia mais fresca tivemos imensa sorte (os animais acabaram por sair das tocas) e vimos todos os animais a que tínhamos direito:  javalis, raposas e "bambis", para deleite da minha filha. Claro que os "poderosos" binóculos ajudaram nesta aventura!;)

Cerca de quase duas horas depois, e já com a Tapada toda visitada, um passeio de carro eléctrico bastante divertido e a visita ao Museu dos Coches bastante apreciada a nossa visita chegou ao fim. Cansada, no carro, a Ana agarrada aos seus binóculos resumiu o que nos ia, a todos os membros da família na alma: "É que adorei mesmo!"

Adorámos todos!

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Mais informações aqui

Contra a chucha: marchar, marchar?

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 Nenhuma criança começou a chuchar por auto-recriação, portanto, pais queridos quando começarem a frustrar porque a criança resiste em deixar a chucha lembrem-se de quem a introduziu. A chucha é uma coisa boa. Se não fosse o seu uso não teria sido perpetuado ao longo do tempo e não seria alvo de habituação por parte das crianças. E é boa porquê?

Ora bem, a chucha não é mais que uma espécie de mamilo de borracha ou silicone. Exacto: mamilo. Aquela coisa que nos conduz à mãe. Por outro lado, o acto de chuchar implica um certo ritmo que nos remete aos batimentos cardíacos da própria mãe, o que funciona como um factor de segurança e conforto, protecção e contenção. 

Por estas, entre muitas outras razões, o acto de chuchar contribui para a redução da ansiedade nas crianças, conferindo-lhes segurança e tranquilidade, capacidades de auto-controlo e de auto-gestão. 

Por esta razão não há uma idade "certa" para o desmame da chucha. Na minha óptica, a criança deve largar a chucha quando se sentir preparada para o fazer, quando tiver recursos alternativos próprios para gerir a ansiedade, a frustração, a insegurança, o medo, o receio sem ter que recorrer à chucha. 

Cabe aos pais conduzir a criança ao reconhecimento destas estratégias quando, finalmente, as possui, de forma a entender que o papel da chucha já não é importante no seu dia-a-dia. Mostrar de forma factual e pragmática que o escuro não oferece nenhum perigo, promover um papel mais proactivo face a ambientes desconhecidos incentivando à exploração dos espaços, treinar estratégias de auto-controlo em situações adversas são alguns dos papéis que os pais podem ter, não para promover o desmame da chucha, mas antes para fortalecer as estratégias de auto-gestão e os recursos emocionais que dispensarão, a curto prazo, o papel da chucha. 

 

 

Mãe da filha# 6

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"Ah, essas modernices. No meu tempo os miúdos iam para a creche e não havia mariquices de correntes pedagógicas e essas coisas"

Fui para o jardim de infância com 3 anos (os mesmos que tinha a Ana).
Toda a gente chamava creche ao ensino antes da escola primária. Agora há berçário, creche e jardim de infância. E já nem se diz escola primária (ensino básico, acho que é assim que se chama agora).
Apaixonei-me pela Teresa- a minha educadora- à primeira vista. A minha mãe nunca soube nada do CV dela. Eu sei que a educadora da Ana tirou o curso na Maria Ulrich e sei que é defensora do MEM (Movimento Escola Moderna). 

Não havia farda, só um bibe verde aos quadradinhos que cada mãe mandava cortar e costurar à sua vontade, sem restrições de modelo. Na escola da Ana há bata, equipamento de ginástica de Inverno e de Verão, com o logotipo da escola. Nada pode ser personalizado porque a ideia é de que as crianças não encontrem nas roupas, marcas ou etiquetas formas de se diferenciarem e pôr de lado rituais exibicionistas. Não sei se concordo inteiramente com isto (sou pela diversidade e no Mundo real levamos com isto todos os dias) mas aceito,
Na minha creche não havia actividades extra-curriculares assim chamadas. Tínhamos ATLs a que chamávamos "tempos livres". Alguns de nós tínhamos ginástica ou ballet mas era tudo no salão paroquial ou no ginásio dos bombeiros, não havia cá mistura. Na escola da Ana há tudo mais um par de botas.
A educadora tirava-nos fotografias, revelava-as e expunha-as nas paredes em registos mensais. Não havia sites da escola, nem páginas de facebook nem espaços nos formulários da inscrição a autorizar divulgação da imagem. Na escola da Ana há isso tudo.
Na altura em que eu fui para o jardim de infância não se falava em pedofilia mas liam-se notícias de abusos sexuais a crianças n' "O Crime". Hoje este é um dos principais medo dos pais (nosso também).
Podíamos levar o cesto com pão de leite com doce e um pacotinho de leite com chocolate e vendia-se bolos na hora do recreio. Na escola da Ana o lanche é providenciado pela escola e igual para todos os meninos, com nuances para os que têm alergias ou intolerâncias alimentares. Os miúdos que andaram comigo no Jardim de Infância não tinham alergias nem intolerâncias, juro! Os tempos mudaram. 
Podíamos levar bolos de aniversário com cobertura de chocolate e recheio de doce de ovos e só comia quem queria, gostava ou podia. Na escola da Ana hoje cantou-se os parabéns a um menino e o bolo era um pão-de-ló simples, porque só esses bolos são permitidos na escola. A Ana comeu e gostou.
A minha mãe não fazia puto ideia do que tinha sido o meu almoço a não ser que eu fizesse o obséquio de decorar o que tinha comido e lho contar no final do dia. Tenho as ementas semanais da Ana todas disponíveis no site da escola. E são monitorizadas por uma nutricionista.
Talvez estejamos no tempo das mariquices. Mas já não estamos em 1986. Já posso lavar a bata da Ana na máquina de lavar e secá-la na de secar em vez de ser à mão como OMO. Posso aquecer a sua comida no microondas em vez de em banho maria. Fazer-lhe chá na chaleira elétrica. Deixá-la escolher os desenhos animados que quer ver com a TV com fibra óptica sem ter que rezar que ganhem os seus desenhos animados preferidos no "Agora Escolha".
O Mundo oferece, agora, mais opções. Mais escolhas. O Mundo está diferente e também com ele a Educação e as vivências da infância. Quero acompanhar o Mundo. Quero escolher o que sinto ser melhor para a minha filha. Escolhi uma escola que acarreta uma série de regras: com umas concordo mais do que com outras. Mas no cômputo geral é esta a escola que me parece, à priori, a que reúne um conjunto de escolhas que melhor se adequa ao nosso modelo familiar. 
Sou uma velha do Restelo em muitas coisas. Não nestas.
Nestas questões eu nunca tive um "no meu tempo isto ou aquilo".
Eu nunca tive um tempo de mãe.
Este é o meu tempo."

 

Liliana (minha mulher e mãe da minha filha)- Quadripolaridades

 

Tudo o que aprendi, num processo de tentativa-erro, com a entrada da minha filha no Jardim de Infância

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1- Não começar a mentalizá-la logo em casa de que vai para o Jardim de Infância.

Avisei logo a mãe para não alimentar o drama. Houve um dia em que ela acordou, abriu os olhos e a minha excelsa esposa lembrou-se de anunciar, com um ar exageradamente feliz: "Booom dia, hoje é dia de escola!". Começou a chorar ainda nos lencóis, fez xixi a chorar, lavou os dentes a chorar, penteou-se a chorar, vestiu-se e calçou-se a chorar, tomou o pequeno almoço a chorar, fez a viagem de carro a chorar e não parou de chorar enquanto estivemos com ela até a entregarmos à educadora.

Deixámos de dar relevo ao assunto "escola" de manhã. Ela acorda e às vezes pergunta-nos: "Hoje vou para a escola?" mas já não nos apanha na curva: "Bom dia, meu amor! Vamos fazer um xixi? Vamos tomar o pequeno almoço? Quais os sapatos que queres levar hoje calçados?" e muitas outras questões e directrizes imediatas preenchem as nossas manhãs, de tal forma que não há grande tempo para intelectualizações de que vamos para a escola. Dar muita importância à ida para a escola dá um peso ao tema que não queremos atribuir-lhe, uma espécie de xarope para a tosse que sabe mal mas que temos que convencer os meninos a tomar, uma espécie de cenoura que sabe mal mas que faz bem aos olhos. Ir para a escola tem que ser encarado como algo natural, como ir para casa da avó brincar, ir às compras ao supermercado. Não é nada de especial ir-se para a escola: é rotina, é normal, é bom. 

 

2- Não ceder a chantagens emocionais

"Mãeee, vou ter saudades tuas!", "Vou sentir a falta do meu papááá!", "Mãe, estou doente e dói-me o branco dos olhos!" e todos as restantes manobras que os pequenos, astutos, dominam tão bem apesar da tenra idade. Houve uma manhã que a Ana teve mesmo febre alta e que não passava. Apontei logo para somatização. Demos-lhe o anti-pirético e a febre não baixava. A Ana nunca tem febre. Ligámos para o pediatra que nos recomendou que não a levássemos para a escola nesse dia e que avaliássemos durante o dia o quadro febril. No dia seguinte, a Ana estava melhor mas percebeu que "estar doente = não ir à escola". A partir daí tentou o argumento umas 342628 vezes, tossiu umas 236 e queixou-se da barriga umas 393 mas sempre só para o teatro. E percebemos, à custa de muita insegurança e medo de estarmos a ser injustos, que não podiamos dar o flanco. A Ana já percebeu que tem que ir para a escola todos os dias. E que só não vai ao fim-de-semana e nos dias em que o corpo dela (e não a voz) acusar doença. Esgotou o argumento.

 

3- Não aproveitar uma fase em que está entretida/distraída para se pirarem

Numa das manhãs (para aí o segundo dia após começarem os dramas) a Ana e outro menino choramingavam e, antes de terem tempo para se despedirem dos pais,  a educadora conduziu-os a um painel na parede com desenhos e ambos se calaram e ficaram ali entretidos a ver aquilo. Os outros pais aproveitaram a deixa e, como não queriam prolongar o choro do filho, deram de frosques. Ainda chamaram por nós mas nós fomos "esquisitinhos" e recusámos a boleia. Quando os garotos procuraram contacto visual com os pais, que julgavam nas suas costas, e o rapazinho percebeu que não se tinha despedido dos pais foi um drama. Chamámos a Ana, demos-lhe o beijo que firma a nossa saída, confirmámos a hora que a iríamos buscar e deixámo-la em lágrimas. Mas não a enganámos e ela não sentiu que a traíamos. Custou? Muito. Mas se educar fosse uma tarefa fácil não era para nós. 

 

4- Não dizer "a mãe/o pai vem já!"

"Mãe, vens já buscar-me?"- perguntava-lhe a Ana amiúde, assim que percebia que era hora de nos virmos embora. Bem que eu via que à mãe lhe apetecia dizer-lhe que sim, que até tínhamos tirado férias e tudo para estarmos de piquete "s.o.s" na primeira semana de escola, que era só ela chamar que nós viríamos. Resistimos sempre. "Não, Ana, nós não vimos já! Vimos buscar-te depois de almoço/ depois da sesta/ quando estiveres a acordar ou à hora do lanche". Dissemos sempre à Ana quando a prevíamos ir buscar e que isso não era "já",  para evitar que a miúda ficasse sempre presa ao conceito subjacente de "já", sempre na expectativa de quando chegaríamos nós.  Às vezes apetecia-me, também a mim, serená-la e dizer-lhe que sim, que vínhamos já. Mas não gostamos de a enganar e não queremos que ela deixe de confiar em nós.

 

5- Não voltar atrás depois da educadora ter feito o acolhimento

A partir do momento em que passamos o "testemunho" é altura de saírmos de cena que o palco já não nos pertence. Depois da Ana estar entregue à educadora está no território da técnica de educação e não na esfera doméstica. Não voltamos atrás, não espreitamos pelo vidro da janela, nem olhamos pelo ombro para nos certificarmos que ficou bem. Mostrar que temos confiança na adulta a quem entregamos os nossos filhos é um passo para lhes passarmos essa sensação de segurança e lhes reduzirmos a ansiedade; nós confiamos sempre nas pessoas em quem os nossos pais confiam. 

 

 

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