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Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Adoptar uma causa por amor. E amá-la como uma filha biológica alguns anos depois.

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Quando a conheci nunca tinha ouvido falar de Spina Bífida.

 

Ela foi-me apresentando, um a um, cada amigo com a patologia. Primeiro o Luis, depois o Filipe, a Rita, o Sanona, a Xana, a Sandra e por aí fora.  Não percebi, nem de longe nem de perto, que aquele era o seu clã, logo ela, que nunca teve perfil para pertencer a nenhum clã, tão única e diferente, tão diferenciada e especial. 

 

Apaixonei-me por ela ao primeiro olhar, pela sua confiança, o seu sentido de humor, o seu destemor.  Às vezes, já estávamos demasiado apaixonados, notava-a preocupada, circunspecta, como se algo a consumisse. Logo ela, que agarrava pelos cornos qualquer problema, que sabia a forma exacta de resolver qualquer situação, tão única e diferente, tão diferenciada e especial. 

 

O andar nunca a denunciou, era trapalhona e despachada, intrépida e desconcertada, fazia parte do seu charme. Nada no seu corpo se assemelhava com as canadianas da Rita ou a cadeira de rodas da Catarina, não havia pistas, só aqueles amigos, demasiado cúmplices e diferentes, diferenciados e especiais. Como ela.

 

Um dia disse-me "Tenho que te contar uma coisa!" e ficou calada, preocupada, logo ela que nunca ficava sem palavras, que nunca se deixava calar pelas preocupações. E depois começou a fazer outra coisa qualquer e eu achei que se tinha esquecido de me contar, que deveria ser uma confidência sem importância, um detalhe tonto. Deveria ter desconfiado, nada nela é tonto nem insignificante, logo nela que é tão única e diferente, tão diferenciada e especial.  

 

 

5 práticas do dia-a-dia que resultam na dinâmica familiar... da Vera

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"1- passamos o máximo de tempo possível na rua. agora que já vão à escola de manhã já tenho mais tempo para fazer algumas coisas em casa, mas ainda passo a hora da sesta da anita na rua. dormir na rua faz bem. à tarde vamos os 4 sempre para o parque ou para o jardim. brincar na rua, no verão ou no inverno, é sempre uma prioridade. o parque é como uma extensão da nossa casa.

 

2- não fazemos muitos programas familiares. o pai trabalha 6 dias por semana das 9h às 2h da manhã, por isso, quando ele está em casa, fazer legos com o pai já é um programa. preferimos cansá-los menos e aproveitá-los mais. e quando o pai está significa que eu também consigo ter mais tempo para cada um e posso fazer um projecto com a maria ou brincar só com o miguel. nos outros dias tenho de fazer tudo ao mesmo tempo. por isso quando fazemos qualquer coisa simples, como irmos todos a um café comer um pastel de nata e beber um chá, para eles já é um programa espectacular.

 

3- não temos tablet e não temos jogos no nosso telemóvel. deixo-os ver televisão, mas não se chateiam nos dias em que ela não "funciona". normalmente desligo-a na ficha quando os sinto mais agitados, uma semana sem televisão faz maravilhas no comportamento do migas. no meu telemóvel só deixo a maria pesquisar projectos pré-escolares no pinterest, ela guarda o que quer fazer e eu arranjo-lhe o material necessário. ao migas mostro imagens no google quando me faz algumas perguntas, no outro dia queria saber o que era um capivara e eu mostrei-lhe.

 

4- todos ajudam a arrumar. peço-lhes para me ajudarem em várias tarefas. uma vez por dia, normalmente escolho o final da tarde, eles já sabem que têm de levar todos os brinquedos que espalharam pela casa e ir arrumar tudo no quarto. estar sempre a pedir-lhes para não deixarem os brinquedos espalhados e ir arrumar era muito cansativo, optei por fazer isso só uma vez por dia. também faço uma montanha de cuecas e meias e juntos dobramos tudo. a maria lava as taças do tobias, o migas gosta de pôr a mesa e arrumar as compras.

 

5- respeitamos as vontades [sensatas] de cada um. não se usa muito o "fazes assim porque eu é que mando". não obrigo ninguém a comer se não tem fome, nem a dormir a sesta se não tem sono, assim como eles também não me obrigam a mim. ainda querem usar chucha e usam. a opinião deles é sempre ouvida e valorizada, mesmo em coisas pequenas do dia-a-dia. as decisões funcionam muitas vezes por votação, e o voto deles vale o mesmo que o meu ou o do pai. já ouvi muitas vezes um " então mas eles é que sabem?" e sim, em algumas situações eles podem tomar decisões e para nós funciona."

 

Vera- nossa amiga e autora do blog "Eu, ele, a Maria, o Miguel e a Ana"

 

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