Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Ser pai

rui.jpg

É acordar com beijinhos nos olhos. Deixá-la enfiar-se no meio de nós de madrugada sem dar por isso. Acordar cedo num feriado para ajudá-la a fazer panquecas. Ficar zombie no sofá o resto da manhã enquanto ela treina os movimento da K.C. agente secreta. Deixá-la escolher a roupa mais pirosa e que pior combina só para a fazer feliz. Comer sopa antes do conduto só para dar o exemplo. Ir até à Malveira e vê-la adormecer pelo vidro retrovisor. Andar a fazer imensas coisas com ela ao colo ferrada de sono. Acordá-la para, perto de Mafra, ela poder comer o seu pão quente com chouriço. Trocar a Smooth pelo CD do Inglês e ir todo o caminho a ouvi-la treinar o "accent". Parar para apanhar papoilas das bermas da estrada-Ter um porta chaves que é uma rolha de cortiça pintada por ela. E gostar. Saltar um gradeamento à socapa para roubar uma rosa só porque é a sua flor preferida. Mudar todos os planos do dia e a hora do banho e do jantar para ainda conseguir chegar a tempo do carrossel em Cascais não fechar. Vê-la a andar uma volta. Duas Três. Fechar os olhos e tentar gravar na memória a beleza daquele quadro, as gargalhadas da minha loirinha na parte do carrosssel que roda sem parar. Ir resgatá-la no fim das viagens só porque está completamente tonta. Ir ao Tchipepa comer gelado e ficar sempre com o resto da baunilha dela. Fazer-lhe a vontade e ir ao ALDI só porque agora lá existem carrinhos de compras para crianças (golpe baixo, ALDI, golpe baixo!). Andar a fazer racing atrás dela no ALDI. Chegar a casa e deixá-la inundar a casa de banho graças aos seus espumosos banhos de imersão. Ter alterado todos os nossos planos do feriado para sermos em coro felizes. Os três. Cheirá-la, ainda com cheiro a bebé, banho tomado, pijama de princesas escolhido, olhos azuis cor do céu. Já cansados, sentarmo-nos a fazer espetadas de queijo mozzarela e tomate cherry porque lhe apetece um jantar vegetariano. Deixá-la beijar-me o dedo porque me queixo de que me piquei ao apanhar a rosa. Vê-la encostar-se a nós, de mansinho, cafuné e senti-la adormecer o corpo. Pegar nela ao colo e levá-la até à sua cama. Em cima da mesinha de cabeceira um pequeno frasco de iogurte com água a servir de jarra à rosa. 

 

Mesmo exausto num feriado, ser pai é incrivelmente bom. 

Ainda sobre a introdução do tema da sexualidade às crianças

A Marta, uma das educadoras mais talentosas que conheço, e que trabalho na escola que eu escolheria para a minha filha se vivessemos em Lisboa, partilhou comigo a sua estratégia pedagógica para trabalhar o tema no seio dos seus alunos de Jardim deInfância.

 

Com a devida autorização, segue a tão válida partilha: 

 

s000.jpg

 s00.jpg

 

 

Dicas d'Os Pais: "Não há verdades absolutas e da discussão nasce a evolução"

No nosso grupo de Pais (sim, temos um grupo só para pais homens e tem sido uma experiência íncrivel!) os temas que apresento aqui no blogue (bem como muitos outros introduzidos por outros participantes) são amplamente discutidos, no bom sentido da palavra. 

 

Hoje, o meu amigo Francisco Machado, professor universitário e especialista em Psicologia Educacional e partcipante activo no grupo contrapropôs uma nova perspectiva sobre o meu post dos TPCs.

 

A parte melhor é que é um vídeo e não uma carrada de blá blá blá. Ora, assistam ao que ele tão bem acrescentou:

 

 

´                    

Let's talk about sex, baby?!

sexo.jpg

Cá casa regemo-nos por um princípio do qual não abrimos mão: nunca (sob que pretexto algum) mentimos à Ana. Isto aplica-se a tudo, se ela pergunta se a "pica" da vacina vai doer, nós dizemos que sim e que no fim a reconfortaremos. Se no início do ano lectivo nos pergunta se vai ser difícil ter que voltar à rotina, concluímos que sim (a ela custa-lhe sempre recomeçar) mas que estamos cá para a ajudar. E isto tanto vale para verdade dolorosas como corriqueiras. No outro dia dissemos-lhe que quem a iria buscar era a mãe, um bocadinho mais cedo que o normal, e quando tivemos que reajustar o dia e percebemos que seria a tia-avó a ir apanhá-la (o que na verdade é muito mais a realidade dela que a excepção de ser a mãe e ela até adora a tia, nem haveria grande drama no processo) fizemos o que tinha que ser feito e ligámos para a educadora a avisar da mudança de planos, para que a pudesse transmitir à Ana.

 

Claro que há raras (raríssimas) excepções.Continuamos a alimentar o Pai Natal e a fada dos dentes porque embora a saibamos pragmática queremos prolongar um bocadinho do imaginária e da magia da infância,embora tenhamos dúvidas de como reagiremos quando nos confrontar directamente com a existência real de tais personagens.

 

Por isso, um dia, aos quatro anos e ao jantar quando nos perguntou como eram feitos os bebés, respirámos fundo, here we go e contámos-lhe, sem recorrer às convenientes cegonhas. 

 

A mãe é especialista nessas conversas e lá explicou que a mãe tinha dentro da barriga um óvulo (uma espécie de ovinho pequenino) e o pai tinha dentro da pilinha um espermatozóide (uma espécie de semente rápida como um girino) e que quando o girino conseguia entrar no óvulo, aquilo junto tinha um poder mágico que era dali sair um bebé. Pareceu-me uma imagem bonita, embora um tanto uma espécie de Big Bang ou de "e puff... fez-se chocapic".

 

Claro que a Ana precisou de saber mais. Afinal como chegava a semente dentro da barriga da mãe e lá lhe explicámos coisas sobre anatomia e o que significava "fazer amor" (a pilinha do pai que se introduz dentro do pipi da mãe), o amor e o facto das pessoas fazerem amor porque se amam (ok, esta parte foi romantizada mas não podemos dizer a uma criança de 4 anos que basta haver cópula sem sexo para nascer uma criança) e que tinha sido dessa forma que Big-bang, "fez-se chocapic", ela tinha nascido. 

 

Não acredito que sejam precisos livros muito científicos para se ter esta conversa, nem colocar um tom sério e formal para se falar no tema. Mais que tudo, é importante não evitar ou adiar a conversa, falar com toda a naturalidade possível sobre ele ("se os pais se mostram desconfortáveis com o tema, então, é porque existe algum motivo para gerar esse desconforto, certo?).

 

E é importante que os pais entendam que falar de sexo é mais que isso: é falar do corpo, da identidade sexual, do género, de afectos, de intimidade e de tudo isso que, junto, faz a sexualidade. Algo que nasce com todos nós. Sim, com os nossos filhos também. 

 

Algumas dicas que nós acreditamos serem importantes na abordagem do tema:

 

 

 

Adolescência e a pressão das avaliações e dos rankings

depressão.jpg

Iniciamos o percurso escolar aos seis anos e, na hipótese mais curta, terminamo-lo aos 18, sendo que nessa idade 2/3 da nossa vida foram passados enquadrados no contexto escolar. 

 

Passamos, por dia, cerca de oito horas, inclusive os mais pequenos, no espaço-escola não havendo como negar o impacto que a escola tem no dia-a-dia das crianças e dos adolescentes. 

 

Trabalhei durante alguns anos com adolescentes com graves incompatibilidades com a escola e o meu trabalho (no seio da equipa multidisciplinar mais fantástica que integrei, constituída por mim- psicóloga-, uma educadora social, uma pedagoga,uma assistente social e um sociólogo) passava exactamente por tentar compreender a relação dos adolescentes com a escola, com os métodos de ensino, identificar as suas motivações e interesses, adaptar os currículos a uma perspectiva de inteligência prática que era bastante forte na população com quem trabalhávamos e acompanhá-los na sua projecção a curto e médio-prazo.

 

O principal problema na escola, tal como hoje é apresentada aos adolescentes, é que não se apresenta como fonte de aprendizagem efectiva e compensadora, não responde às dúvidas, curiosidades e interesses dos jovens, não faz emergir questões de base que precisam de ser respondidas, não espicaça a curiosidade e a procura de conhecimento por parte dos alunos. A escola tornou-se numa "obrigação" cheia de métricas, rankings e metas, centrada nos números e não nas pessoas, que são os alunos. 

 

Hoje em dia, os conhecimentos são postos à prova desde a mais tenra idade,em contextos de avaliação altamente hostis, com apenas uma caneta em cima da mesa e professores que se vêem na triste incumbência de os policiar, numa espécie de relação tensa entre duas trincheiras, ao invés de se apostar em relações de parceria e confiança, de colaboração e respeito, de descoberta do conhecimento.

 

Os professores andam cansados, a sua classe profissional cada vez menos respeitada por Governos sucessivos que lhes impõem reformas educativas atrás de reformas educativas, sem os ouvirem, sem os auscultarem sem os envolverem, sem os recompensarem. Os professores não conseguem chegar aos alunos, dedicar-lhes tempo para tirar dúvidas individuais, apoiá-los nos seus projectos curriculares, à custa de metas que têm que cumprir, de rankings para os quais têm que contribuir. Os professores não conseguem chegar aos pais, a maioria deles cansada ao final de um dia de trabalho,depois de trânsito, de jantares e banhos e da culpa do pouco tempo que dedicam aos filhos. 

 

Não estará isto tudo pervertido?

 

 

 

"Brincrescer":o workshop que não é um workshop!- diz a mãe desta casa

brincrescer.jpg

 

"Sou um bocadinho alérgica a workshops que nasçam de blogs. Primeiro porque me parece que são sempre coisas ali um bocadinho a martelo, para se rentabilizar as matérias de escrita, mas depois com conteúdos ocos e esvaziados, temas tornados temas à pressão e bloggers que não têm competências académicas, práticas ou, de facto, validadas para os minstrarem. Não tem que ver com cagança académica, juro, até porque excluo, obviamente, deste rol, workshops de culinária dados por quem dá provas de ser um cozinheiro de mão cheia, que estuda, que tem dado provas da sua competência mas wokshops dados para me ensinarem a coordenar roupas ministrados por pessoas que, por sua vez, frequentaram um workshop anterior de como coordenar roupas: tenham amor à Santa!

 

Posto isto sobre esta matéria em específico começopor avisar já que sou suspeita: sou mulher de um e a fã número 1 da outra. Este é o principal disclaimer. E agora vem a parte em que vos explico o óbvio e aqui vai:

 

O Rui- meu marido- trabalha com educação não formal desde 2013. Há quinze anos, portanto. Não é o estereotipado psicólogo de gabinete, de secretária, de "hums" e com ar bonzinho. Tem um ar divertido, até. Já fez muitas coisas diferentes ao longo do seu percurso profissional mas não houve uma única vez em que tenha ido ter com ele ao respectivo local de trabalho- e pelas minhas contas trabalhou nos quatro bairros sociais mais problemáticos do concelho onde vivemos e num dos maiores da capital- e não tenha visto crianças penduradas ao seu pescoço. O Rui adora crianças e trabalhar para e com elas.

 

Adora brincar e defende o direito universal à brincadeira como um direito básico essencial ao desenvolvimento não só emocional mas inclusivamente cognitivo e social das criancas. 

Implementou projectos de ludotecas de escola e comunitárias, desenhou projetos educativos, formou pessoal docente e não docente, trabalhou em parceria com os melhores stakeholders desta área (com sector de actividade lúdica do Instituto de Apoio à Criança- beijinhos Marta, Ana e Vera!- , com a Fundacao Aga Khan, com redes concelhias, enfim...), estudou muito, visitou projectos de impacto na área do brincar nacionais e internacionais para aprender as melhores práticas, foi gestor de equipas, fez parte de equipas e senta-se no chão a brincar todos os dias, porque acredita que “no brincar é que está o ganho”.

Considero que é o melhor brincador que conheço, quer do ponto de vista conceptual e teórico, quer do ponto de vista prático. E quando chega a casa ainda não vem cansado e torna a brincar com a nossa filha. E brinca muito. Muito e bem. 

 

A Vera, por sua vez, é a mãe que a maioria de nós gostaria de ser. Atenta, observadora, criativa e inatamente preparada ao nível de um pos doc em maternidade e tem o blog de maternidade não só mais bonito como mais verdadeiro da blogosfera. Com os três filhos tem posto em prática uma espécie de home schooling ao nível da creche e é a melhor inventora de brincadeiras e brinquedos que conheço, fazendo verdadeiras omeletes sem ovos e usando materiais orgânicos e da natureza para treinar competências de desenvolvimento cognitivo sempre embrulhadas em propostas lúdicas.  

 

No atelier "Brincrescer" juntarão está parte de conhecimento e fundamentação sobre a importância do brincar e o papel dos pais neste processo a uma componente prática que culminará na construção de um brinquedo, dinamizada pela Vera. Será durante um sábado, num espaço da loja Babyblue, a loja mais gira do Parque das Nações e, de bónus,o coffee break será confeccionado pela querida Sofia dos "Les gourmandises de Sophie". 

 

Mais razões para não perder? Não há!"

 

 

Liliana- minha mulher e autora do Quadripolaridades

 

 + informações aqui e em nomedopai@sapo.pt

 

 

Alfabetização precoce? Não, obrigado.

albabetizao.jpg

Ambos cá em casa adoramos ler e temos hábitos de leitura enraizados. Cada um de nós, enquanto filhos, temos as nossas histórias relacionadas com a leitura e a escrita: enquanto eu vivia numa pequena ilha dos Açores, nostálgica e muito chuvosa, onde uma das grandes emoções era quando o carteiro trazia os livros vindos por avião do continente do "Círculo dos Leitores" que me serviam de companhia em dias de grandes intempéries e aguaceiros; a minha mulher, aprendeu a ler aos quatro anos, fruto de uma infância em que tinha internamentos prolongados após intervenções cirúrgicas ortopédicas e tinha que permanecer meses seguidos deitada em macas de barrigas para baixo para ajudar a cicatrizar calcanhares e tendões, pelo que, a leitura tornou-se a única e óbvia actividade possível disponível. 

 

Ambos quando entrámos na escola primária já sabíamos ler ( e embora não conhecesse a minha mulher na infância tenho a certeza que existia ali uma quase sobre-dotação na área verbal) e, por várias vezes, confessámos um ao outro a desmotivação que a primeira classe (sim, somos do tempo da primeira classe!) se afigurou para nós, por não constituir nenhum desafio e quase arriscando que havia muita dispersão comportamental à custa desta frustração de não nos apetecer acompanhar o resto dos colegas numa aprendizagem que já estava adquirida (as avaliações da minha mulher, arquivadas num dossier cá de casa, são de chorar a rir, onde os adjectivos "faladora e irrequieta" aparecem em todos os boletins, de todos os períodos, da primeira à quarta classe, mesmo nos períodos em que ela teve um absentismo de quase 100% devido aos internamentos acima referidos). 

 

A par disto tudo eu sou um apaixonado pelos temas da ludoterapia, do direito das crianças ao brincar, já implementei e coordenei serviços de várias ludoteca, quer comunitárias quer de escola, e acho que as crianças até aos 6 anos deveriam fazer muito pouco para além de... brincar. 

 

Daí que foi uma certeza, desde sempre, que não iríamos apostar numa alfabetização precoce da nossa filha.

 

Assim o fizemos de forma consciente sem que, no entanto, tivéssemos boicotado o contacto da Ana com as letras e os livros: é sócia da biblioteca aqui da terra desde que nasceu, tem uma colecção de livros que ocupa um oitavo da nossa biblioteca pessoal, adora canetas e cadernos e nós correspondemos facilitando-lhe o acesso aos mesmos e, desde sempre, que antes de dormir  lhe é contada uma história. Adora livros, conhece autores, delira com leituras de livros em livrarias públicas e na escola trabalham imenso a compreensão e interpretação de histórias, cruzando-as com outras disciplinas, nomeadamente as artísticas (a escola da Ana tem uma grande componente virada para as Artes). 

 

Desde os três anos que nos pergunta letras, desenha garatujas, investe nos grafismos e nós vamos respondendo às solicitações, sem grande incentivo pela leitura/escrita propriamente dita, mas com a honestidade e justiça de lhe permitir a aquisição de competências de base que lhe alavancarão a aprendizagem- não só mas também da leitura- no seu devido tempo. 

 

Há um grande preconceito com os filhos dos psicólogos (penso que a par de nós, só talvez os educadores de infâmcia sofram da mesma pressão) e é amiúde que vem à baila a questão: "Mas então, não ensinam a Ana a ler?" A resposta é sempre a mesma... não! E as reacções de incompreensão acumulam-se. 

 

Os argumentos de quem defende a alfabetização precoce prendem-se essencialmente com a competitividade que lhes será inerente durante todo o seu percurso académico, a importância de estarem o mais preparados possível desde a mais tenra idade (um pai de uma criança que eu conheço dizia-me, um dia,  que aos quatro anos o filho tinha mesmo que aprender a ler porque o mundo real lá fora é um "Mundo de competicão" e só sobrevivem os melhores e mais bem preparados), uns pais nossos conhecidos disseram-nos, taxativamente, que defendem a alfabetização precoce porque esperam que o seu filho seja o melhor e assim já leva o devido avanço, havendo mais possibilidades de se destacar com este conhecimento antecipado. E muitos dos nossos amigos perguntam-nos, com boas intenções, se nesta fase- em que a capacidade de aprender está exponenciada ao máximo, o cérebro com uma capacidade de aquisição de conhecimentos vertiginosa, a curiosidade a níveis máximos e em que os miúdos são uma autêntica "esponja"- não faria sentido aproveitar todo este potencial para a ensinar a ler, a aprender uma segunda língua, um instrumento musical, etc.  

 

Muitos dos nossoa amigos cujos filhos foram precocemente alfabetizados têm um orgulho imenso nessa conquista dos pequenos e sentem-se altamente valorizados com o feito. Todos- sem qualquer ironia. todos são argumentos válidos.  Mas que, na nossa dinâmica familiar, não fazem sentido.

 

Então mas, depois de tudo isto, não alfabetizam, de todo, a miúda? Nim. 

 

 

De Que Cor É um Beijinho?

Mónica, neste livro conhecida por Mini Mo, tem uma missão: descobrir de que cor é um beijinho, afinal?  
Ao longo das páginas, Mónica vai tentar descobrir e fazer divertidas associações as cores, os alimentos, as estações do ano, as acões e as emoções.
Um livro incrivelmente bem ilustrado que percorre um mundo de emoções à procura da cor de um beijinho.  

ba.png 

Título:   De Que Cor É um Beijinho?

Autoria:  Rocio Bonilla 

Tipo de leitura: leitura narrada por em adulto

Idade recomendada:  entre os 3 e os 6 anos

Sugestão de actividade: Desenhar um beijinho e colori-lo

 

Blog Out #6 Kidzania e a euforia de toda uma família

DSCN3592.JPG

 

 

A minha digníssima mulher já fez o favor de nos quebrar o coração com este incrível texto que fez com que toda a resistência passiva, insistência e até chantagem emocional ("vá lá, faz o esforço pela Ana, sabes o quanto ela adora!") tivessem valido a pena mas tinha ficado a faltar o meu feedback sobre o fantástico dia da mãe passado na Kidzania.

 

Como muitos de vocês saberão eu sou ilhéu e não tenho uma série de memórias de infância comuns aos dos meus amigos do continente nem às da minha mulher. Quando lhe noto o brilho nos olhos a falar da abertura no Verão da Feira Popular, da casa dos espelhos, da casa assombrada, da montanha russa com looping e, no final, das sardinhas assadas que, pelos vistos, tinham uma mística própria, fico sempre à nora (mas ter crescido nos Açores trouxe-me,em compensação, uma série de experiência geniais de que um dia aqui escreverei).

 

Por isso, sempre que informamos a Ana de que vamos à Kidzania depreendo que o grau de excitação seja o mesmo que a maioria dos leitores deste blogue e que são pais da minha geração sentiam quando iam à Feira Popular. 

 

A primeira coisa que a Ana fez foi todo o planeamento: sacou dos confins de um cofre secreto que tem dentro do armário as notas da kidzania que vai acumulando por cada visita que faz (a Ana é uma fuinha e nunca quer gastar dinheiro!), analisou o passaporte para garantir quais os carimbos em falta e quantos eram precisos acumular para ganhar o prémio mais cobiçado por ela (sim, o pacote de pipocas grátis!), olhou para o mapa e traçou um percurso e lá nos metemos a caminho. 

 

A Ana é muito mais organizada, planeada, focada e metódica do que qualquer um dos pais e nunca deixamos de nos surpreender com a sua capacidade de concretizar os seus planos. 

 

Chegados à Kidzania começámos a seguir o roteiro, ali, certinho, actividade atrás de actividade, sem dispersão. No fim de cada actividade pontuava-as num caderninho que levava na pequena malinha e, no fim, percebemos ali um padrão (sim, somos ambos pais psicólogos, tenham condescendência!). 

 

DSCN3524.JPG

 

 

Na kidzania conseguimos perceber imenso sobre os nossos filhos: como reagem em situações de resistência à frustração (permanecem nas filas para concretizarem as actividades mais desejadas ou desistem do objectivo e dispersam?), a capacidade de concentração, atenção e até resiliência (nas actividades mais boring- por exemplo na fábrica de gelatina- a Ana, que faz gelatina amiúde em casa, manteve a sua atenção às explicações e não mostrou enfado), a capacidade de empatia (nas análises clínicas à agua, uma das actividades que até fez sozinha com o monitor, e apesar de ser tímida, sentiu que lhe cabia a tarefa de colaborar de forma mais activa para que a actividade resultasse), se preferem papéis de liderança (a Ana não os prefere,por exemplo, é uma low profile) ou actividades de colaboração ou competição (a Ana abomina competição, mesmo em áreas em que se destaca pela positiva, toda ela é colaboração), se tem uma visão mais macro ou se prefere tarefas de atenção ao detalhe (aqui, claramente, de atenção ao detalhe), se se identifica mais com tarefas burocráticas, desportivas, "hands on" tipo fabris, científicas ou sociais (sim- suspiro*-sociais, e adorou ser médica, veterinária e dentista), qual a sua relação com o dinheito e com a componente numérica (já disse acima, é uma fuinhas e sabe que trabalhar é que lhe garante amealhar mais dinheiro e pondera sempre no qua não gosta da actividade e se lhe faz sentido pagá-la numa óptica de custo benefício: só pagou o spa, porque era o dia da mãe e queria maquilhá-la e pintar-lhe as unhas, o teatro porque adora de facto espectáculos, o circuito de condução e as compras do LIDL.) De caminho, perdeu o medo e subiu a torre de escalada, naquele que foi o ponto alto deste dia. 

 

DSCN3317.JPG

  

No meio disto tudo seria é fascinante ver como, num contexto macro de jogo simbólico, eles reproduzem tantos comportamentos que vêem em casa e como nós educamos, de facto, pelo exemplo: a Ana fez um hambúrguer no MacDonalds e quando se cruzou com a Pizza Hut afirmou logo que não ia para aquela fila, porque já tinha comido uma vez "fast food" ou quando olhámos para as compras que ela colocou sozinha no LIDL estavam ali todos os produtos de todas as marcas que compramos cá para casa, sem excepção. E,claro, não abriu mão do teatro porque cá em casa somos uns fantáticos da vida cultural. 

 

Ir à Kidzania é uma festa para família. Como psicólogo penso que seria interessante colocar à frente de cada actividade uma explicação aos pais acerca dos skills que ali podem ser treinados, nomeadamente, no que concerne às competências sociais, para os pais conseguirem também tirar as ilações que nós conseguimos tirar e perceberem alguns padrões de comportamento dos filhos que emergem nestes contextos de educação não formal (Kidzania, encarem isto como um desafio!).

 

"Happy kid, Happy Life!"- saímos completamente estafados e excepcionalmente felizes. A Ana adormeceu mal sentou o rabo na cadeirinha do carro, ali, agarrada Às notas que trouxe (mais que as que levara de manhã) e ao balde de pipocas grátis que os carimbos somados lhe proporcionaram.

 

Digam lá que não é obstinada?

 

+ informações aqui

"Não ser pai todos os dias cansa"

custodia-compartida.png

 

Acredito, veementemente, que nunca houve tão bons pais, interessados, conscientes e participantes ativos na educação dos filhos como hoje. Somos, na minha perspectiva, a primeira fornada de pais realmente excepcionais, que não querem ajudar a mãe mas formar equipa com ela, que não querem empurrar com a barriga as decisões do dia-a-dia mas pô-las em cima da mesa e discuti-las em casal e que reclama um papel ativo, presente e ao mesmo nível da mãe.

 

Esses pequenos sinais vêem-se nas reuniões das escolas (no meu tempo era uma sala cheia de mães,na última reunião da turma da minha filha a que compareci era uma sala cheia de casais), nas salas de espera das urgências dos hospitais (da última vez que lá fui com a Ana e em que cheguei ao hospital primeiro que a mãe e entrei para fazer a triagem e esperar pela chamada havia mais pais homens com os filhos do que mães. Foi tão surpreendente para mim que assim que a minha mulher chegou, para ir alternando comigo os colos da miúda, comentei com ela e concluímos que há, de facto, uma mudança de paradigma).

 

Cá em casa não há, até à data, assuntos de pai ou de mãe. Todos os assuntos da vida da Ana nos dizem respeito a ambos e embora um de nós tenha que ser, formalmente, o encarregado de educação, toda a informação é partilhada, discutida e decidida a dois. 

 

No entanto, notamos que a sociedade ainda desconfia deste modelo que emerge de forma natural. Se vou buscar a Ana à escola , a auxiliar manda sempre recados sobre a Ana para "eu não me esquecer de dizer à mãe", as pessoas espantam-se muito quando estou com a minha mulher num sítio público e a Ana pede para ir ao quarto de banho e sou eu que avanço para a acompanhar e não a mãe e, no passado, tive imensos problemas com uma ex entidade patronal porque a minha produtividade baixou após o nascimento da minha filha porque eu queria acompanhá-la a todas as consultas e a minha chefia (mulher) não percebia porque não ia simplesmente a mãe sozinha, até porque estava de licença de maternidade. 

Eu sempre quis ser pai por inteiro, não que a mãe fosse a procuradora da minha parentalidade e que a nossa filha fosse, na prática e não apenas conceptualmente, um projecto a dois e dos dois. 

 

Temos um amigo que se está a separar. Daí não nasce nenhuma pérola, já dizia o poeta, não será o primeiro nem último. Enquanto casal tinham uma dinâmica muito parecida com a nossa, em particular no que diz respeito à parentalidade. Quando tudo se configurava para uma óbvia custódia partilhada com residência alternada, a mãe deu o dito por não dito e sugeriu que o pai tivesse direito a um jantar por semana e um fim-de-semana de quinze em quinze dias. 

 

Quando, como amigos, a questionámos do porquê da objeção percebemos que, como na maioria dos casos, a mãe estava a utilizar o filho como arma de arremesso para castigar o pai, de quem tinha partido o pedido de separação. Mais uma vez conjugalidade e parentalidade a serem confundidas e, pior, no seio de um casal constituído por pessoas inteligentes e com bom senso. 

 

O pai, obviamente, não aceitou. Dizia que não queria passar de ser o pai que dá beijinhos todas as noites antes de dormir, o pai que dá banhos desde que a criança nasceu, que lhe conhece os gostos e interesses, que sabe o nome de todos os dinossauros, que entra na pscina para o acompanhar desde as suas primeiras aulas de natação,  para um pai em "part-time".

Foi exactamente esta a expressão que ele usou: "não quero ser pai em part-time".

Não quer ser um pai que não consegue acompanhar e ajudar nas matérias da escola, que só de quinze em quinze dias sabe os novos gostos adquiridos pelo filho, que não sabe como correram os dias, que tem que condensar em quatro dias por mês tudo o que quer viver com o filho durante a sua infância e adolescência. 

 

Na primeira audiência, o tribunal atribuiu à mulher o papel de criar o filho, conferindo aos nosso amigo um regime de visitas resumido a fins de semana alternados e férias.  Ele recorreu, Não lhe fazia sentido que a mãe criasse o filho que era dele de igual forma e a ele apenas lhe coubesse a tarefa de o sustentar e ter uma esmola de tempo quinzenal. Recorreu.

 

A realidade é que o número de crianças enquadradas num regime custódia partilhada alternadamente com a mãe e com o pai depois da separação do casal está a crescer, mas ainda é residual. Apesar de todas as mudanças de paradigmas, nestes casos, a prática do Direito de Família continua a decidir com base nos estereótipos dos papéis de género baseados na crença de que cabe à mãe cuidar/amar e ao pai sustentar. A situação de profunda desigualdade e discriminação começa a ser reconhecida e penso que, ainda assim, estão a ser feitos esforços no sentido de promover um maior equilíbrio na regulação do poder paternal.

 

A minha opinião (que tem a validade que tem ) é que, à partida e numa situação "normal", o modelo que defende e pratica uma maior partilha das responsabilidades parentais e de participação igualitária na vida dos filhos,  é o da residência alternada. Claro que cada caso é um caso e que há circunstâncias que não o permitem, seja porque um dos pais decide ir viver para muito longe do outro ou situações em que não se consegue salvaguardar, de todo, a estabilidade da criança. 

 

No caso dos nossos amigos, estavam criadas pelo pai todas as condições para que esta proposta de custódia partilhada com residência alternada fosse concedida (ele comprou casa no mesmo bairro da ex-mulher para garantir o menor constrangimento para o filho, para não lhe afectar horários, para o conseguir continuar a levar à escola, enfim, tudo) mas, mesmo em recurso, o escrutínio foi tão grande e a resistência passiva de tal forma que voltou a perder. 

 

Numa terceira tentativa fomos testemunhas. Uma chatice termos que tomar um partido quando somos amigos de ambos os membros do casal e a sua conjugalidade e razões de separação nos são completamente indiferentes mas, explicámos à mãe, que estávamos ali para dar a nossa opinião sobre o que defendíamos que seria a situação menos penosa possível (um divórcio deixa sempre cicatrizes profundas numa criança) e mais equilibrada para o filho.

 

A mãe sentia que o ex-marido lhe estava a tirar tudo: o casamento e agora o filho dela. Rejeição dupla, perda dupla,luto duplo de situações de vida idealizados e não concretizados. Para além de verbalizar que, por ser a mãe, teria mais competências parentais que o ex-marido. Só que os filhos não são das mães, nem dos pais, são de ambos e um projecto a dois que deve, até ao fim, permanecer como um projecto a dois,mesmo que as famílias se recomponham, que haja novas configurações familiares; mas a verdade é imutável: aquela criança nunca se poderá divorciar de nenhum dos progenitores, será filha dos dois para sempre. 

 

É importante salientar que, a investigação nesta área demonstra que os pais são tão competentes para cuidar dos seus filhos quanto as mães (Lamb, 1997, 2002; Parke, 1996).

 

Finalmente, o nosso amigo conseguiu não ser pai todos os dias mas um pai a tempo inteiro semana sim, semana não. Consegue manter rituais, as histórias à noite, e as waffles feitas na máquina que recebeu há três anos no dia do pai todas as manhãs de domingo. Continuar a sentir o calor do corpo do filho, encostado ao seu no sofá enquanto ambos vêem desehos animados. Manter todas as rotinas que juntos criaram:os banhos partilhados no chuveiro a cantar a decíbeis inaudíveis, os códigos inventados e perpetuados pelos dois.

Sem pressas nem em contra relógio porque um fim-de-semana só tem 48 horas "e quero que ele se divirta comigoe agradá-lo para compensar este divórcio e a minha culpa". O nosso amigo não queria fins-de-semana de festas, dias de excepção, parques e actividades de compensação, queria a rotina, o ram-ram dos dias iguais, a intimidade que só se consegue com uma convivência que não pode ser de excepção. 

 

Para qualquer pai que ame os seus filhos viver longe dos mesmos, mesmo que por inerência de escolhas de conjugalidade, é penoso. Nestes processos ninguém sai a ganhar; a criança perde a possibilidade de estar e co-habitar com ambos os pais a tempo inteiro e cada pai tem que ceder algum deste full time ao outro. No fim de contas, o que importa é que a criança sinta que mãe e pai o amam e querem cuidar dele de igual forma e - idealmente- tenham uma abordagem consonante.

 

Que continue a haver piadas privadas e cúmplices com o pai e mimos e intimidade partilhadas com a mãe e vice-versa. Que possa ter acesso aos pais, a qualquer um, sempre que necessite daquele colo específico, sem que essa necessidade tenha que ser regida por uma sentença assinada por um juiz; que possa apetecer-lhe jantar com um na semana que até "é do outro", sem chantagens emocionais ou pressões e, especialmente, sem ninguém ficar melindrado. Que possa continuar a ser filho de ambos todos os dias. 

 

No outro dia, o nosso amigo veio cá a casa agradecer-nos a comparência na audiência. Sentou-se no sofá da sala e olhou, por alto, para os nossos livros na estante. Bateu de frente com o "Viver todos os dias cansa"  do Miguel Esteves Cardoso. E suspirou:

 

"Basicamente, era o que vos queria agradecer. Terem-me ajudado a explicar à magistrada que não ser pai todos os dias cansa. E dói."

 

Há que pensar nisto, numa das (poucas) áreas em que a discriminação afecta maioritariamente os homens. E se, nos anos 80, os homens  até agradeciam não ter que levar com os putos todos os dias semana sim, semana não, nós não somos essa geração. Nóss somos a geração que quer ser pai todos os dias.

Mesmo que canse. 

 

Mudemos o paradigma! 

Pág. 1/2