A minha filha tem seis anos e eu continuo a educá-la numa estratégia de tentativa-erro
Pedem-me opiniões muitas vezes. É irónico pois nunca soube tão pouco como agora, nunca tive tantas dúvidas como no presente e nunca me pediram tantas opiniões, pareceres, partilhas e testemunhos como actualmente, fruto não só da profissão como da experiência como pelo facto das pessoas acreditarem convictamente que já não sou um pai caloiro, afinal a Ana já completou seis anos.
Sou um pai caloiro e inexperiente todos os dias. Todos os dias, repito.
"Como podes dizer isso se a miúda até já anda na escola primária?"- perguntou-me há dias uma amiga e eu sorri. Sou um pai a estrear duma filha a crescer todos os dias. Há novidades constantes e em catadupa como se eu finalmente estivesse a dominar o meu iPhone 8 e a saber utilizar graciosamente e de forma segura toooodas as suas funções e, de repente, cá vai disto e lançam o Iphone 9. É isto mas com uma filha que de repente já não usa chucha e dorme sozinha, come autonomamente e toma banho sozinha e - uhhhh!- até o cabelo já lava sem ajuda e, pronto, embora lá introduzir a variável "escola" na equação para te provar que ...
De repente, já de nada me vale a estratégia da porta das fadas para largar a chucha e que o xarope de maçãs reinetas é remédio santo para as cólicas porque sou um nabo e não lhe sei responder "para que raios precisamos de aprender letra manuscrita se depois os crescidos já não a usam a escrever, papá?!" ou "porque é que o 4, o 5 e o 6 estão virados para a direita e os outros números todos para a esquerda?" ou "comemos com o garfo na mão preguiçosa porque a mão direita é que precisa de se abanar muito para a faca cortar, ceeeeerto, pai?".
De repente, sei poucas coisas acerca do Mundo e do funcionamento da vida e só não tenho medo destas emoções todas porque sei que é mesmo assim uma descoberta constante, uma vida cheia de surpresas, um completo desconhecimento do que fazer, uma sensação contínua de não controlo, um misterioso futuro cheio de novas e desconhecidas aquisições e tudo bem.
Estamos a crescer os três, como família, e sempre a educámos sem certezas e não está mal educada, não senhor, isto da tentativa-erro acaba por resultar e é isso que respondo, quando me perguntam coisas, logo a mim, que tenho tantas dúvidas: educa-se por instinto, por tentativa-erro, vamos errar mas, no fim, acabamos por acertar sempre. Acertamos sempre que os sentimos a crescer felizes. A viver felizes.
Basta amor é esta a resposta para tudo, sim, é um cliché mas é verdade!- e humildade de, como Jon Snow, aceitarmos que eles nos escarafunchem na cara que não sabemos nada, afinal.
E ainda bem.