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Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

Em nome do Pai

Paternidade na ótica do utilizador.

"Como correu o teu dia?" (para filhos pequenos)

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Os mais pequenos têm dificuldades em verbalizar e os mais crescidos não têm paciência para o descrever. "Como correu o dia?" é, provavelmente, a pergunta mais non grata para filhos. No entanto, é importante que os pais se mantenham a par do dia-a-dia dos seus filhos, dos pontos altos e baixos, dos principais desafios e oportunidades com que se deparam, dos amigos que os acoompanham e dos progressos que fazem. Esta necessidade de estar atento para reforçar comportamentos, reorientar situações, antecipar necessidades, actuar em caso de emergência e não perpetuar situações negativas é essencial para que os pais sintam segurança e confiança e não apenas, como é interpretado pelos filhos mais velhos, para deterem algum controlo. 

Nesta coisa da comunicação com os nosso filhos cometemos, face a algumas crianças, um erro fundamental: fazer perguntas abertas demasiado vagas e abstractas ("como correu o teu dia?") que obrigam a criança a ter que estruturar o pensamento, organizar ideias, usar o método descritivo e formular todo o discurso num processo trabalhoso e moroso, para o qual a maioria não tem paciência e não vê grandes vantagens em percorrer. 

Assim, sugerimos algumas técnicas:

1. Fazer uma pergunta de cada vez mas de forma suave e sem parecer que está a fazer um interrogatório ou uma entrevista ("Qual foi a melhor parte teu dia?" "Brincar à apanhada no parque com a Sara. "Ah, que giro! E alguém se juntou a ti e à Sara?")

 

2. Utilizar uma linguagem simples e clara ("Com quem brincaste hoje na escola?" Brincaram ao quê?"

 

3. Utilizar "perguntas abertas" de forma a obter o máximo de informação ou percepcionar a forma como a criança aborda um assunto ("Qual foi a melhor parte do teu dia?")

 

4. Utilizar "perguntas fechadas" para obter informações específicas ou confirmar aspectos particulares da questão ("Hoje ao almoço comeste peixe ou carne?" ou "Hoje de manhã leram uma história ou cantaram uma canção?")

 

5. Evitar perguntas ambíguas ou que possam ter interpretações incorrectas ("Falei com a tua educadora. Portaste-te bem hoje na escola?" levanta algumas questões e ansiedade aos filhos. "O que terá dito a educadora?" "O meu comportamento pareceu-me correcto mas será que na perspectiva dela me portei bem?")

 

6. Evitar que as perguntas contenham juízos ou críticas, passíveis de desencadear defesa ou contestação ("Já sei que hoje não te portaste bem na escola: queres falar-me acerca disso?")

 

7.  Evitar que as perguntas levem a criança a sentir-se alvo de manipulação ("Passei lá pela tua escola e vi-te- Queres contar-me o que se passou durante a manhã ?")

 

Eis algumas sugestões de formas de contornar a pergunta sacramental, substituindo-a por outras formas de abordagem menos evasivas:

 

 

Filhos Pequenos:

 

1- Qual foi a melhor parte do teu dia?

Se,por um lado, esta pergunta nos mostra o que mais valorizam os nossos filhos, por outro, pode ser um excelente quebra-gelo e desencadeador de mais informação que ele acredite que é importante partilhar connosco

 

2- Com quem brincaste hoje na escola? Brincaram ao quê?

 Saber quem são os amigos dos nossos filhos é importante para conhecermos os seus pares e vermos quem são as figuras de maior referência de forma continuada. Perceber o conteúdo das brincadeiras que partilham também é uma informaçao relevante para entendermos se as brincadeiras tem um estilo mais físico/motor, mais de jogo simbólico, mais de construção ou manipulação de objectos, etc.  Toda esta informação pode ser útil para compreendemos melhor as dinâmicas da escola, os pontos fortes e as oportunidades de melhoria e necessidades de reforço ou investimento junto dos nossos filhos. 

 

3- Qual foi o maior desafio que enfrentaste hoje?

 Substituir a palavra "problema" ou "dificuldade" por "desafio" desde tenra idade é importante no que concerne às bases de uma linguagem positiva (a título de exemplo é melhor dizer "Tem cuidado a subir esse escorrega" do que "Tu vais cair!"). Saber o que o nosso filho considera um desafio é um bom indicador do que ele valoriza, das estratégias que com ele devemos treinar para os superar e para o acompanharmos nesse percurso. 

 

4- Eu hoje almocei peixe grelhado com as minhas colegas no meu trabalho. Também comeste peixe hoje à hora de almoço na escola? 

 A troca de informação é uma arma poderosa. Assim que os nosso filhos percepcionam que partilhamos com eles partes do nosso dia-a-dia e por questões quer de emparelhamento, procura de identificação, sintonia, de "troca de cromos de informação" ou de empatia terão mais tendência para partilharem connosco as suas próprias informações. 

 

5- Qual foi a coisa mais simpática que a tua educadora te fez hoje?

Perceber os contornos da relação entre os nossos filhos e os seus educadores de infância ou professores, enquanto figuras de autoridade mas também de afecto e de referência é essencial. 

 

6- Aprendeste alguma história/música nova? Qual? Conta-ma!

Partilhar conhecimento é importante para podermos partilhar códigos comuns, experiências comuns e não criamos um fosso entre as rotinas da escola e de casa. Se na escola dos nossos filhos há uma música matinal do "Bom dia!" é importante que a possamos treinar no caminho entre casa e escola para ele sentir que estamos todos em sintonia e conhecemos todos os mesmos códigos comuns. Se uma história nova é introduzida na hora do conto é bom que ele nos descreva para percebemos o que interpretou e reteve dela e que ilações dela tirou. 

 

Cá em casa, quando há uns meses também fomos confrontados com a falta de vontade da pequena partilhar o seu dia adoptámos a estratégia de, à mesa de jantar, eu e a mãe trocarmos, entre nós, a descrição dos nossos próprios dias, partilhando histórias entre ambos. Como a filha não se quis sentir excluída da conversa e da dinâmica, começou, progressivamente a querer intervir e fazer parte da discussão, avançando com as suas histórias e momentos marcantes do seu dia. Ou seja, nunca a obrigámos a contar ou a pressionámos mas criámos um hábito do qual ela não abriu mão de se sentir incluída. Funcionou. 

 

De reiterar que estas questões devem ser quebra-gelo e potenciadoras de novas questões na sua continuidade ou devem impulsionar que a criança sinta necessidade de complementar a informação com mais informação para que, assim, possamos efectivamente perceber de forma mais generalizada "como correu o dia dos nossos filhos".

 

 

(Em breve um post com conteúdo para "filhos maiores". É uma promessa.)