Contra a chucha: marchar, marchar?
Nenhuma criança começou a chuchar por auto-recriação, portanto, pais queridos quando começarem a frustrar porque a criança resiste em deixar a chucha lembrem-se de quem a introduziu. A chucha é uma coisa boa. Se não fosse o seu uso não teria sido perpetuado ao longo do tempo e não seria alvo de habituação por parte das crianças. E é boa porquê?
Ora bem, a chucha não é mais que uma espécie de mamilo de borracha ou silicone. Exacto: mamilo. Aquela coisa que nos conduz à mãe. Por outro lado, o acto de chuchar implica um certo ritmo que nos remete aos batimentos cardíacos da própria mãe, o que funciona como um factor de segurança e conforto, protecção e contenção.
Por estas, entre muitas outras razões, o acto de chuchar contribui para a redução da ansiedade nas crianças, conferindo-lhes segurança e tranquilidade, capacidades de auto-controlo e de auto-gestão.
Por esta razão não há uma idade "certa" para o desmame da chucha. Na minha óptica, a criança deve largar a chucha quando se sentir preparada para o fazer, quando tiver recursos alternativos próprios para gerir a ansiedade, a frustração, a insegurança, o medo, o receio sem ter que recorrer à chucha.
Cabe aos pais conduzir a criança ao reconhecimento destas estratégias quando, finalmente, as possui, de forma a entender que o papel da chucha já não é importante no seu dia-a-dia. Mostrar de forma factual e pragmática que o escuro não oferece nenhum perigo, promover um papel mais proactivo face a ambientes desconhecidos incentivando à exploração dos espaços, treinar estratégias de auto-controlo em situações adversas são alguns dos papéis que os pais podem ter, não para promover o desmame da chucha, mas antes para fortalecer as estratégias de auto-gestão e os recursos emocionais que dispensarão, a curto prazo, o papel da chucha.
Minimizar a criança ou despromovê-la chamando-a de "bebé", humilhá-la ou ridicularizá-la com argumentos como "tão crescida e ainda usas chucha?" ou "não tens vergonha de ainda usar chucha?" são apenas factores que contribuem para o sentimento de culpa, o decréscimo da auto-estima ou o aumento da ansiedade da criança, ou seja, tudo o que não queremos nesta etapa. É importante caminharmos no sentido oposto, dotar a criança de confiança, aumentar a sua percepção de auto-controlo, valorizá-la e resuzir-lhe a ansiedade, de forma a que, gradualmente, tenha necessidade de procurar a chucha como elemento de segurança e confiança.
Outra das estratégias mais comummente utilizadas é a de fazer desaparecer a chucha e apresentar, como facto irreversível, o seu desaparecimento à criança. "A chucha caiu na sanita" ou"o velho do saco veio de noite e roubou-te a chupeta" são estratégias que incutem sofrimento à criança, ansiedade de separação do que é, muitas vezes, o seu objecto de transição e aumentam a insegurança, o desconforto e geram sentimentos de revolta, impotência, desconfiança e zanga por parte dos mais pequenos.
Assim, na minha perspectiva, não se deve fazer do desmame da chucha um caso de vida ou morte. Há que respeitar o tempo da criança, os seus recursos emocionais, a sua predisposição e motivação para abdicar deste objecto e negociar com ela este desmame, de forma ao mesmo não ser imposto mas, antes, auto-gerido e assimilado.
Há muitas ideias que se podem propôr (não impôr) como o de deixar a chucha na árvore das chuchas e ir visitá-la sempre que se sentir saudades, deixar a chucha num local de fácil acesso para a criança ter a sensação de que a tem disponível se precisar (tal como muitos fumadores em processo de deixarem de fumar fazem com o maço de cigarros) e dar-lhe essa sensação de controlo (dando reforço positivo sempre que conseguir gerir situações de stress sem recorrer a ela mas não a penalizando se tiver que recorrer), negociar o uso da chucha apenas à noite como um momento especial e de cumplicidade quase secreta, combinar uma "palavra secreta" para quando se precisa da chucha que só deve ser usada em s.o.s como se se partilhasse um código ou, seja, trazer o lúdico para esta fase.
O pediatra da minha filha sugeriu algo muito divertido do ponto de vista simbólico: oferecer à chucha uma caminha feita de caixa de fósforos, com um lençolzinho feito de tecido e uma almofada mini, de forma à chucha poder descansar depois de uma noite de árdua trabalho enquanto a pequena dormia. Assim, sempre que a Ana acordava era altura da chucha ir dormir e trocarem de turno.
Retirar a chucha de forma impositiva e à força é errado e pode levar à substituição por outros "vícios" como roer as unhas os chuchar nos dedos da mão.
Por isso, não temos pela chucha uma relação de adversidade e de inimizade. A chucha é uma coisa boa, introduzida por nós, que serviu para acalmar e dar segurança à nossa filha durante muito tempo. Cabe-nos a nós ajudá-la a encontrar outros recursos próprios para ter esta mesma sensação securizante e dispensar a velha amiga. Sem dramas, sem stresses, sem pressas. Com paciência e amor.