No dia do escutismo reafirmo que estou "Sempre alerta para servir!"
Cresci numa pequena ilha dos Açores onde a variedade de atividades extra-curriculares, nos anos 80, não era profícua.
O escutismo tinha, na altura, uma importância grande na ilha e uma adesão transgeracional enorme. Curiosamente, não foi ver os meus primos irem para as atividades dos escuteiros que me convenceu a seguir-lhes as pisadas; foi, precisamente,o facto da minha tia (mãe deles) fazer parte do CNE e eu ver o entusiasmo com que ela falava dos escuteiros.
Aos 5 anos era tudo novo e fascinante. Ali permaneci até aos 18 anos, tendo sido lobito, explorador, pioneiro e caminheiro. Eis as nove grandes lições que aprendi com o escutismo:
1- Conhecer o meu corpo, suas limitações e potencialidades.
Todas as atividades físicas que desenvolvi nos escuteiros ajudaram-me a ganhar competências de superação de medos e exploração do meu potencial físico. Nunca tendo sido do tipo atlético (sou mais para o intelectual) foi nos escuteiros que melhorei a minha performance em jogos coletivos e de equipa, a subir às árvores, a conhecer melhor alimentos que o mato nos dá, a importância da hidratação, do repouso, a conhecer melhor o meu corpo e a respeitá-lo, a celebrar as diferenças físicas pois é a heterogeneidade que torna uma matilha mais forte e completa. A querer superar desafios físicos com uma rede enorme de suporte,
2- Explorar a infinitude da minha criatividade, improvisar e ter resistência à frustração
Nos escuteiros desenvolvi várias competências ao nível da capacidade de improviso, de pensar fora da caixa, de olhar para as coisas e para a natureza para além do óbvio. Percebi que tenho liberdade para explorar o espaço, para jogar, ou melhor, aprender jogando, não agrilhoando o pensamento e não tendo medo de falhar. Aprendi que errar é normal e que não importa acertar à primeira e queinsistir e persistir pode, muitas vezes, ser a chave do sucesso.
3- Trabalho em equipa é tudo e comunicar é essencial
Nos escuteiros desenvolvi um elevado espírito de grupo, sentido de pertença e a certeza de que juntos somos mais fortes, mais capazes, mais eficazes. Aprendi a estabelecer relações, a saber mantê-las, a ceder e a gerir emoções. A cooperação é tudo! Que saber comunicar é a chave para 90% dos problemas das equipas e que saber ouvir é mil vezes mais importante que falar. Desenvolvi técnicas de comunicação não verbal, técnicas de escuta activa e comunicação positiva como forma de motivar as equipas que liderei. Uso essas competências até aos dias de hoje no meu trabalho com crianças.
4- Analisar e resolver problemas, ter sentido crítico e ter capacidade de decisão são factores chave em todos os momentos da nossa vida
Olhar para um problema e resolvê-lo uma vez, duas, três, olhá-lo de outros ângulos, pedir ajuda, improvisar., tentar diferente são competências que adquiri e treinei arduamente nos escuteiros. Analisar prós econtras na chamada análise do campo de forças e decidir de forma sustentada ou, em alguns casos, sob pressão foi muito importante na minha formação. Autonomia, responsabilidade na assunção das minhas decisões e consistência tendo em conta os valores pelos quais me rejo são ensinamentos que nunca mais me abandonaram.
5- Ser mais confiante e ter mais auto-estima
A pertença a um grupo unido e que se apoia sob qualquer circunstância deu-me mais segurança, confiança e aumentou-me grandemente a minha auto-estima. E isso é a base de tudo.
6- A alimentar o meu lado espirutual
Tendo em conta que eu sou escuteiro (pertenço à fação católica) existe todo um lado espiritual que os escuteiros me incentivaram a trabalhar. A descoberta e aprofundamento de quem sou e do meu lugar no Universo, a minha conecção com esse lado espiritual, de entrega aos outros, de empatia e amor ao próximo da importância da vida humana como um valor absoluto são valores que considero que os escuteiros me ajudaram a fortalecer e solidificar.
Sei o que é ser “Sal da Terra e Luz do Mundo” e ponho-me ao serviço dos outros.
7- Treinar competências de negociação e liderança
Tentar encontrar solução de win-win numa lógica de gestão de projetos, com alternancia de papéis, sabendo também seguir e legitimar outras lideranças e saber gerir papéis quer de liderança quer de subordinação foram aspetos essenciais e que prevalecem até hoje. Num meio dinâmico em que os ambientes fluem os escuteiros prepararam-me a estar pronto para pegar nas rédeas e nos comandos da situação mas também a legitimar autoridade.
8- A formação cívica é tão importante como a formação técnica
Participar ativamente na vida da minha comunidade, contribuir para a minimização das desigualdades e o combate das justiças sociais, servir quando a comunidade precisa do meu serviço, celebrar a diferença, não ser egocêntrico, ser cooperante e solidário foram skills que os escuteiros me fizeram aprofundar e que permanecem até hoje, na minha participação em vários projectos de voluntariado e no meu envolvimento no movimento cooperativo e associativo.
9- Amar o próximo, sem preconceitos nem juízos de valor, tanto quanto a nós mesmos