Sobre recomeços
Talvez porque a idade escolar tenha tanta significância nas nossas vidas que estabeleça um padrão no nosso pensamento e funcionamento interno (ou talvez apenas porque trabalhe em contexto escolar) Setembro é, para mim,o início do ano novo.
A rentrée traz energia e esperança. Traz necessidade de limpar a casa e acabeça, de arrumar divisões e pensamentos, de desenhar esquiços e fazer planos e projectos. Setembro traz a vontade renovada de recomeçar, de fazer certinho e melhor, de concretizar.
Agosto foi importante: altura de serenar o compasso do relógio e das rotinas, de acordar sem planos nem agendas, de provar a liberdade pela qual ansiamos o ano todo e, este ano para mim, a possibilidade de regressar aos meus Açores.
Nos Açores convergiu o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Voltar ao colo dos meus pais, à cumplicidade com o meu irmão foram essenciais, como uma bússula que nos aponta o Norte Despedir-me para sempre da minha avó. Reencontrar amigos de infância. Namorar com a minha mulher, ter tempo a dois sem a pressãodo dia-a-dia, dos compromissos, da dificil tarefa de gestão entre todos os pontos cardeais das nossas vidas. Olhar para ela e agradecer ao Deus em que acredito as melhoras e o seu regresso, fonte de combustível de toda a nossa família, estrela polar das nossas vidas. Ver a minha filha crescer a uma velocidade vertiginosa, pés descalços e fato de banho todo o dia, liberdade de brincar na rua até ao sol se pôr, aventuras sem fim que construirão o imaginário da sua infância.
Neste Agosto construímos memórias.
Setembro traz-me a vontade renovada de aqui voltar. De deixar registadas algumas reflexões sobre educação e parentalidade no masculino. De partilhar projectos e ideias. De participar em debates e discussões públicas. De comunicar.
É para mim dura a tarefa de manter aqui regularidade de forma disciplinada. Os dias atropelam-me como, aliás, nos atropelam a todos.
Mas irei tentar. Setembro traz-me o desejo renovado de tentar.
Concretizemo-lo.